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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vestes de Luar



Um ar de cautela, um passo atrás do outro, caminha cuidadosamente sobre piso de madeira já podre e mofado... Um aroma de flores, poeira, um breu invade a minha visão que já estava turva.


A única coisa que iluminava era a luz do luar, agora coberto pelas nuvens pesadas da chuva que anunciara,

O telhado velho e desgastado pelas ruínas do tempo fazia ecoar o som penetrante das primeiras gotas de chuva...

Pensava em dormir, já estava cansada e com sono, há dois dias sem dormir

Olheiras tomavam-lhe o lugar dos olhos, sua cor era pálida como a mais densa névoa...

Um passo atrás do outro, cuidadosamente senta ao chão, cansada, apóia os cotovelos em cima das próprias pernas, sua mente gira, a fome já o consome...

O tempo parece parar... O Sol nunca nasce... -Não posso dormir.

Passaram-se apenas meia hora desde que chegou ao sótão.

O cheiro de verniz e mofo do piso de tabuas corridas lhe sobe as narinas, sente tocar-te como uma velha lembrança aconchegante...


Lareira, lenha, neve e chocolate quente com biscoitos amanteigados, as flores colhidas ainda na primavera, cultivadas em casa quase mortas, pessoas a viam, falavam e cumprimentavam, “- Bom dia madame”.

A noite era sempre só, sem cumprimentos, sem chocolate quente, sem biscoitos. O frio Parecia mais intenso desta vez do que nas noites anteriores, sentia-me fraca. Não me via mais no espelho, e a noite nunca passava...

Minha camisola, já suja não me deixava levantar... Pesava-me no corpo, me empurrava para baixo, forçando-me a sentar...

Não dava mais um passo atrás do outro, mas me arrastava pelo piso úmido, o ecoar das gotículas de chuva pareciam trovoadas na minha cabeça, vozes me tomavam a mente...

Aquela camisola, com brilhantes, era muito bonita para estar suja desse jeito, não via a hora de trocar o piso... A noite parecia eterna.


Meu corpo ficava fraco, não sei o que era os ossos ficavam cada vez mais expostos, minha pele estava seca, queria um creme de amêndoas, nem lembrava mais do seu cheiro, queria pelo menos lembrar-me do cheiro.

Toda podridão do local tomava conta, Minha consciência pedia desejo, limpeza, mas algo interrompeu o raciocínio, um espelho em minha frente mostrou-me a verdade.

Roupas caras, Vestimentas de Luxo, Cavalos que valiam o preço da casa que vivia sua empregada.

Sua camisola parecia pesar uma tonelada, o cordão de prata poderia arrancar-lhe o pescoço só com o peso.


Lembrei-me de tal ocorrido, pedras rolando e gritos apavorantes, olhei e avistei uma criança, parecia ser um menino, queria ajudar, acabara de sair de casa, o vestido era novo, tudo que fizera foi chamar ajuda, basta uma mão, e nada faltaria nem mesmo a vida.

Nada teria sentido se não acabasse de perceber, vermes saiam de meu braço já putrefato, não sentia a carne de minhas nádegas, nem o volume avantajado de meus seios, a dor tomava conta do meu peito, mesmo que gritasse ninguém me ouviria, nem eu mesma.

Tudo se traduziu em dor, a vida de vantagens, trapaças e desejos, algo me fazia falta, um prazer pleno seguido de sons de harmonia pecaminosa.

Tudo era frio, a lua não aparecia mais, as gotas de chuva que congelavam logo que tocavam o chão agora era a única coisa que a fazia manter consciente.

Anos dor a agonia parecem se passar, a neve não para de cair, eu fico a olhar aquela lua que nunca se mexeu. Tons de prata tomam minha visão a neve parecia agredir menos minha pele morta tomada pela neve, nem mesmo os vermes sobreviveriam.

Um calor passou pelo meu corpo, certo alívio também, uma voz toca-me o peito.

Era familiar, há anos não escutava esse tom rouco e firme de dizer,... -Não tenha medo.

Segui a voz, a neve parecia sumir sob meus pés, a luz do luar parecia ganhar um calor solar ao tocar meu corpo, Lótus brancos surgiam no caminho como se guiassem meus passos.

Caminhava até um rio que desembocava no mar, sua pele tomava tons de prata, seus pés se misturam ás águas que tocava, sua pele refletia a luz da Lua enquanto tomava forma aquosa e límpida.

Sentiu uma imensa vontade de gritar de felicidade, sentiu-se imensa como o mar, a luz do luar agora parecia fazer parte de seu próprio corpo.


Perdi a o valor pela roupa.... Já estava velha, me corpo já era cadavérico, nada me servia, a dor era insuportável.
Olhando para o céu, olho ao longe a janela do sótão que antes me abrigara da chuva e disse: vestir-me-ei com o luar, me banharei na chuva do inverno, me aquecerei nos braços da luz da consciência, e tornarei o mar o meu corpo, para que possa sempre olhar essa noite de Luar nos quatros cantos da Terra, aquecida com o seu olhar, onde mora o meu amor e para onde devo voltar.

Um comentário:

  1. Mandou, Bom das Duas Uma, ou você ta se dedicando a busca pela perfeição com contextos perfeitos ou vc ta deixando de tomar seu remedio de Loucuraa e isso tá te fazendo BEM ... hehehe te Amull Mulek !

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